(título da coluna original da Folha da Tarde - 1985)

31 julho 2012

O Sertão de todos nós




Luiz Bernardo Pericás
Sobre o romance Cansaço, a longa estação, do escritor e historiador Luiz Bernardo Pericás, escreve o critico Guido Viaro [1] :   

A palavra nasce tortuosa, como a vegetação ressequida do sertão árido. Ela entorta-se, segue retas, volta para a terra e surpreende, terminando em três folhas verdes. 

 Essa foi a aventura de Luiz Bernardo Pericás, semear Punaré, João Baraúna e Cicica. Os dois homens são ao mesmo tempo galho seco e flor colorida, enquanto Cicica, cobiçada por ambos, é apenas a flor de mandacaru, com suas grandes pétalas virginais brotando dos espinhos e desafiando um céu sem nuvens. 

Estando mergulhados no mito, os três personagens dançam suas vidas, imunizados contra o tempo e vivendo em um espaço que é reflexo das almas. 
Seus sentimentos são, por vezes, agudos como a lâmina de Punaré cortando o rosto de Baraúna, em outras ocasiões o que sobra da vida é aceitação de um destino que tem a extensão da linha do horizonte. 

Essa indecifrável paisagem, que cheira a sangue, terra e amor, foi construída com palavras feitas de som e ritmo. Esse sertão foi costurado com poesia extraída dos cantos mais escondidos da caatinga. Para um leitor menos atento, pode parecer uma nova visita aos mundos de Guimarães Rosa, José Américo de Almeida ou Graciliano Ramos. 

Para aqueles que lerem com mais atenção, perceberão que esse sertão é original e vivo, e que seu autor é Luiz Bernardo Pericás. Agora, para aqueles raros, que são leitores-autores, e que vivem os grandes livros, esses, logo irão perceber que esse mundo não é de Pericás. Porque é de todos nós.

Cansaço, a longa estação 
96 páginas 


[1] Diretor do Museu Guido Viaro (Curitiba) e escritor paranaense, autor de O livro do medo (Ideale, 2012), entre vários outros.  

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