(título da coluna original da Folha da Tarde - 1985)

18 dezembro 2009

                    
          
                           Conversas com mi general - 2

                          Jornalista estrangeiro: general, usted dice que el pueblo de Nicaragua lo quiere mucho y sin embargo solo sale a la calle protegido por un tremendo aparato de seguridad. ?De que tiene miedo?
                         General: sí, el pueblo me quiere mucho y por ello me cuido para seguir vivo y conducir con honestidad, cordura y sabiduría, virtudes que modestamente no me faltan, a la adorada patria nica ?Por casualidad, señores, los presidentes de sus países no tienen seguridad? Buenas tardes, que les vaya bien, distinguidos periodistas extranjeros.

                        Pedreiras de tradução  

                        Num ensaio memorável sobre as sutilezas da lingua portuguesa, como escrita e falada no Brasil e Portugal, ´Aduana linguística´ (do seu clássico La experiencia literária), o grande escritor e crítico mexicano Alfonso Reyes, nos anos 30 embaixador do México em nosso país, lembrava, alertado por um amigo, o poeta Ronald de Carvalho, das dificuldades de verter ao português brasileiro a seguinte frase de um poema de Amado Nervo, ´Cobardia´: ´Pasó con su madre´.
                      Fino e arguto conhecedor do tema, Reyes diz: ¨No português do Brasil não há lírico que se atreva a dizer, ´passou com sua mãe.´ ¨Nenhum estrangeiro pode imaginar a ironia que brota daquele possessivo junto ao nome de mãe em um verso de amor. Toda a inexprimível doçura do hemistiquio se dissolveria em mofa e sarcasmo...¨
                    Contudo, houve quem se arriscasse a buscar alternativas tradutórias mas os resultados deixaram Reyes frustrado com o que ele considerava uma forma de corrupção da beleza original: ´passou com a mãezinha´, ´passou com a mãe dela´, ´passou com a mãe´.
                   Conclui Reyes: ¨e esse íntimo, gostoso, fluido e terso castelhano ´pasó con su madre´, se converte num indestrutível corpo simples, para o qual, até hoje, ninguém pôde encontrar a solubilidade portuguesa. ´Cobardia´ nos dá uma prova física de que os dois idiomas fundamentais da Península se parecem tanto que não equivalem um ao outro...¨                                             
                        

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