(título da coluna original da Folha da Tarde - 1985)

11 janeiro 2010

 De pires na mão

                    Em artigo recente no Observatório da Imprensa, ´O sucesso dos vampiros´, o  escritor e doutor em Letras pela USP, o catarinense Deonísio da Silva, denuncia, uma vez mais, a injusta e precária situação dos colegas brasileiros diante do acachapante fenômeno editorial que é a série Crepúsculo, da americana Stephenie Meyer, líder absoluta, com quatro livros, das listas dos mais vendidos no país.
                  Resguardadas as enormes diferenças entre as duas  indústrias editoriais, enquanto Meyer recebe fortunas de adiantamentos nos Estados Unidos, o escritor brasileiro, para ver a cor dos minguados 10% do preço de capa de exemplar vendido, precisa, sozinho, batalhar muito.
               E esse esforço nem sempre resulta na boa aceitação da literatura brasileira no mercado, como explica em seu blog Todoprosa, outro escritor, o jornalista Sérgio Rodrigues. 
                  Deonísio, pena cética e afiada, resume o problema: ¨...No Brasil, até prostituta agora é profissão reconhecida, mas escritor ainda não...¨        
                     
                              La revolución no perdona

                  Oportuna retrospectiva na Pinacoteca do Estado, na Luz, da obra do artista plástico Arnaldo Pedroso D´Horta (1914-73), traz à lembrança outro de seus talentos - o de jornalista no Estadão dos anos ´60. Em ´65, por exemplo, ele foi enviado ao México para conferir os resultados da histórica Revolução de 1910, com ênfase em sua bandeira maior, a reforma agrária.
                 Na volta ao Brasil, sob o título de `Zapata a Cantinflas´, escreveu uma série de artigos dominicais denunciando o fracasso, por causa da corrupção e da ineficiência, da famosa reforma agrária, até então apresentada como modelo ideal para o resto do continente.
                Indignado, o presidente Gustavo Días Ordaz, líder de um regime na época autoritário, sob a rigida orientação do poderoso partido predominante, o PRI, proibiu a entrada de Horta no país nos dois anos seguintes. Logo depois, sob o clima de certo mal estar entre México e Brasil, D´Horta reuniu em livro os artigos.
                Até hoje, especialistas mexicanos no tema, sem mencionar as agudas observações do jornalista brasileiro, contestam e criticam as bases da reforma agrária em seu país. 

                 
                    

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