(título da coluna original da Folha da Tarde - 1985)

24 janeiro 2010

            
                          México para gringos


                    Complexas e conflitivas sempre foram, ao longo de uma perigosa fronteira de 3 mil quilômetros, as relações entre México e Estados Unidos, num embate áspero que abrange fundas e insolúveis diferenças culturais, políticas, linguísticas, históricas.

                   E agora que cresce a presença do imigrante latino nos EUA, com predominância do mexicano, essa situação de contrastes cotidianos, vivida mais intensamente pelos desterrados, atiça as discussões, do lado do vizinho menor, advertindo sobre a importância de  preservar as velhas tradições - entre elas, a culinária nacional, ou seja, as maravilhas da cozinha ´de la abuelita,´ difíceis de serem reproduzidas, com um mínimo decente de autenticidade, fora do país e muito menos por mãos gringas sujas de ketchup e maionese..

                 Não pensava assim o empresário americano Glen W. Bell, Jr., quando, em 1951 vendeu seu primeiro taco, por 19 centavos de dólar, num drive-in que abrira em San Bernardino, na Califórnia.

A partir desse negócio modesto, Bell construiu seu império, a Taco Bell, vendido em 1978 para a Pepsi por 125 milhões de dólares.. 

.               O fantástico crescimento da rede sob seu comando, ele dizia, se devia não tanto à idéia de popularizar a comida mexicana nos Estados Unidos, mas sim, na sua visão pragmática, oferecer aos seus clientes uma outra alternativa fast food, barata,  para enfrentar seu concorrente maior, a McDonald´s.

                Hoje, em cinco mil locais nos Estados Unidos, a Bell vende uma média anual de 36 milhões de tacos (tortillas recheadas de carne, queijo, feijão, e outros ingredientes).
               Contudo, mexicanos de paladar apurado, bons conhecedores dos cheiros e gostos da comidinha da pátria, residentes ou não nos Estados Unidos, mantém prudente distância do produto maior da Taco Bell.

             Um deles, o colunista do Los Angeles Times, Gustavo Arellano,  num fino e bem humorado artigo de homenagem a Glen Bell (falecido semana passada) e sua enorme façanha empresarial, dá uma dica sútil sobre o porque dessa desconfiada resistência: ¨..Bell dizia que não inventou o taco, só melhorou o produto...¨




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