(título da coluna original da Folha da Tarde - 1985)

21 março 2010

             
                           Da história mexicana             

                  Em meados dos anos 70, então nosso embaixador no México, o paulista Lauro Escorel, intelectual de fina estirpe, pioneiro na exegese da poesia de João Cabral de Melo Neto, recomendava ao jornalista brasileiro, na época ainda meio perdido nos meandros da história local, que lesse a obra do historiador Edmundo O´Gorman (1906-1995), sobretudo sua visão da Revolução mexicana e da chegada dos espanhóis ao continente americano - México, el trauma de sua história (1977) e Invención de América (1958).
                   Foi uma descoberta fascinante, plena de revelações, que, ao longo do tempo e a fragmentação de leituras dispersas e interrompidas pelo próprio oficio jornalistico, que exige imediatismo e velocidade, não teve a devida e reflexiva continuidade.
                  Agora contudo chega a boa notícia: o Fondo de Cultura Económica (FCE) e a UNAM - Universidad Nacional Autónoma de México anunciam a publicação do livro Imprevisibles historias. En torno a la obra y el legado de Edmundo O´Gorman, da também historiadora, ex-discipula do escritor, professora Eugenia Meyer.
               Trata-se de, além de uma antologia de textos e traduções de clássicos ¨del maestro¨, de uma análise abrangente de sua fértil e refinada obra, que o fez um dos maiores historiadores mexicanos, uma vida dedicada ao estudo dos vários e tumultuados processos nacionais.
              Estilista maior no seus textos históricos,  O´Gorman não poucas foi hostilizado por alguns de seus pares, ¨talvez até desprezado por não se prender aos cânones tradicionais do trabalho propriamente hermenêutico¨, diz Meyer.  Ele fazia uma ¨nova história¨, ¨aquela mais interessada e voltada à história social, a história das mentalidades e inclusive a história social...¨
                Com Alfonso Reyes e Octavio Paz, O´Gorman forma um trio das mais luminosas cabeças da moderna cultura mexicana (filosofia, poesia, história, literatura, linguistica) , autores que deveriam ser melhor conhecidos no Brasil. No caso de Paz, ele tem sido editado no Brasil, é verdade,  mas dos outros dois, há pouco - se houver.
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