(título da coluna original da Folha da Tarde - 1985)

19 abril 2010

                                                 Da tradução

                O oficio tradutório no Brasil, além de mal pago, sempre exige do tradutor prazos de entrega exíguos. Sistema por certo injusto e inadequado, pois a tradução, a literária sobretudo, é um trabalho árduo e complexo, que requer do profissional a ela dedicado, entre outras qualificações, sólidos conhecimentos das duas línguas - a original e a receptora.
                Críticos mais céticos questionam sempre: será possível mesmo produzir uma boa tradução, considerando as diferenças culturais, as sutilezas linguísticas, os sentimentos mais recônditos do autor? Será o próprio tradutor também um escritor ou não passa de um mero ´reescrevedor´ do texto alheio?
               Perguntas que a mais respeitada tradutora de grandes escritores latino-americanos (García Márquez, Vargas Llosa, Fuentes), Edith Grossman, responde agora em seu livro Why translation matters (Yale University Press, 2010).
              Em quatro densos capítulos, ela, também a tradutora maior do Don Quixote de Cervantes, explica, no prefácio, que seu objetivo ¨é estimular um novo enfoque de uma área da literatura que com frequência é ignorada, mal compreendida, ou distorcida...¨
             Dona de um precioso acervo tradutório, Grossman tem todos os méritos para acreditar, e defender, a importância cultural da tradução, mas tampouco esconde as traiçoeiras armadilhas desse trabalho, na busca interminável de um mínimo aceitável de compatibilidade entre línguas e  contextos sociais diferentes, no processo honrando tanto as intenções do autor como as expectativas dos novos leitores da sua obra.


         

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